A denúncia assinada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), se baseia em inquérito da Polícia Federal que revelou que o jogador teria forçado um cartão amarelo em partida contra o Santos, em novembro de 2023, com o objetivo de beneficiar apostas feitas por familiares e amigos.
Enquanto outros acusados receberam proposta de acordo de não persecução penal, Bruno Henrique e seu irmão Wander sequer foram incluídos nas tratativas.
Segundo o MP, o jogador do Flamengo já havia se beneficiado de acordo semelhante em outro processo e, além disso, a solução não seria suficiente para a "reprovação e prevenção do crime", dado que a conduta do acusado foi considerada grave do ponto de vista simbólico e social.
“Não há margem para abrandar a conduta criminosa atribuída a Bruno Henrique e seu irmão Wander Nunes no que tange ao planejamento e à execução da fraude”, diz a denúncia.
O MP argumenta que uma eventual “resposta branda” ao caso poderia naturalizar a prática de fraudes no ambiente esportivo, sobretudo num contexto em que há "explosão de consumo de serviços de apostas online" e um "número crescente de pessoas adoecidas por ludopatia".
Para os promotores, permitir que um atleta do porte de Bruno Henrique escae de responsabilização firme poderia legitimar uma cultura de “vale tudo”, de modo que a “banalização ou tolerância” de comportamentos ilícitos incentivaria novos delitos, criando uma “verdadeira babel”.
"Ora, se o ídolo investiu neste nicho delitivo e pôde colher uma resposta branda do Poder Judiciário, a expectativa daqueles que neles se inspiraram será a mesma. E, daí, se tendenciará a formatar uma cultura de naturalização de fraudes esportivas e estelionatos", sustenta o MP.
A denúncia ressalta ainda que Bruno Henrique, por ser "atleta de expressão nacional e jogador do clube com a maior torcida do país", é visto por torcedores – incluindo jovens e crianças – como um exemplo a ser seguido. Nesse cenário, a impunidade poderia funcionar como um “convite à prática de jogos de azar” e até estimular a consumação de golpes em plataformas de apostas.
Além disso, os promotores apontam que o atleta teria ingressado no mundo do crime "de forma livre e consciente", mesmo com condições para se manter afastado.
"Mesmo sendo um atleta bem-sucedido, rico, com a carreira estabelecida e jogador bem-quisto por uma enorme massa de torcedores e, além disso, mesmo 'não precisando' de qualquer vantagem econômica e detendo condições financeiras de ajudar seus familiares que também incorreram nas práticas delitivas descritas na peça acusatória, Bruno Henrique cometeu os crimes que lhe são atribuídos, o que evidencia que uma solução negocial é efetivamente inepta para fins de reprovação e prevenção do crime."
O Ministério também critica duramente o fato de o jogador ter atuado como garoto-propaganda de uma casa de apostas enquanto participava da fraude, pontuando o comportamento como "contraditório e altamente reprovável", já que teria utilizado de suas informações privilegiadas para "ultrajar e prejudicar o próprio setor que lhe financiou". Nesse sentido, o esperado era que ele "agisse como um exemplo no combate às fraudes."
Além de Bruno Henrique, foram denunciadas outras oito pessoas, incluindo seu irmão Wander Nunes Pinto. Apenas um dos investigados, Douglas Ribeiro Pina Barcelos, aceitou firmar acordo de não persecução penal com o Ministério Público, após apresentar confissão extrajudicial, o que garantiu a ele a exclusão da denúncia criminal formal.
Os demais investigados — Ludymilla Araújo Lima, Poliana Ester Nunes Cardoso, Claudinei Vitor Mosquete Bassan, Rafaela Cristina Elias Bassan, Henrique Mosquete do Nascimento, Andryl Sales Nascimento dos Reis e Max Evangelista Amorim — também receberam a proposta, mas recusaram.