Bolsonaro adotou um tom sereno, não se exaltou, não confrontou Moraes, pediu desculpas por excessos e até buscou dar uma pitada de humor. Num momento de tentativa de descontração, ele disse que queria convidar Moraes a ser o vice dele na campanha presidencial de 2026, o que fez as pessoas presentes rirem. Bolsonaro está inelegível, mas se coloca como candidato à Presidência.
No depoimento, Bolsonaro pediu desculpas a Moraes por ter acusado o ministro de receber dinheiro sem provas e negou ter tratado de golpe. Disse que um golpe é “abominável”, que é “até fácil de começar”, mas que o depois é “simplesmente imprevisível e danoso para todo mundo”. Ele ainda defendeu que os atos do 8 de janeiro de 2023 não preenchem os pré-requisitos para um golpe de Estado.
Apesar da postura, tanto membros da oposição quanto governistas avaliam que não deverá haver uma reviravolta no andamento da ação penal sobre a suposta trama golpista.
Esta foi a primeira vez de Bolsonaro frente a frente com Moraes dentro do inquérito da trama golpista.
Na oposição, há uma avaliação de que Moraes foi inteligente em se mostrar ponderado, paciente e até sorridente em certos momentos na condução dos depoimentos.
Pelos governistas, existe uma avaliação de que tudo seguiu o script esperado, sem maiores surpresas ou fatos que possam causar grandes mudanças jurídicas.
Bolsonaro e outros cinco réus foram interrogados nesta terça na Primeira Turma do Supremo. Pela manhã, foram ouvidos o ex-comandante da Marinha, Almirante Almir Garnier; o ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, e o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno. Já depois de Bolsonaro, que falou no início da tarde, foi a vez do ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, e do ex-ministro da Casa Civil e candidato a candidato na chapa de Bolsonaro em 2022, Walter Braga Netto.
Na segunda-feira (9), já tinham sido interrogados Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Com os depoimentos desta terça, Alexandre de Moraes encerra a fase de interrogatórios desta ação penal.
Todos os réus negaram qualquer envolvimento na suposta tentativa de golpe de Estado.
Um dos depoimentos mais esperados era o do Braga Netto, preso desde dezembro. Por isso, foi o único ouvido por videoconferência. Ele disse que jamais ordenou algum ataque aos chefes militares, e negou ter dado dinheiro a Mauro Cid para bancar os acampamentos em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília. Disse que Mauro Cid o teria procurado, mas sem dizer a finalidade do dinheiro.